O silêncio da parede

A parede está calma...

Não deve, não treme,

A cor não é quente nem fria

É cor de gente, creme...

As escritas convidam, conclamam

Os passantes apressados,

Indiferentes.

As rachaduras nem esquentam

Com o reboco que cai.

Os tijolos agradecem

E respiram a cada ruptura.

A pintura era nova,

Agora, nova era.

Os desenhos, apesar do musgo,

Continuam atentos.

A chuva cai de leve,

Fazendo a sua vêz, erodindo

Mais um pouco do reboco que resiste.

A parede parece triste...

Cadê as pessoas? Que importa?

Não tem porta.

Até a janelinha de ferro podre

Está torta;

Era cinza,porém,

Com seus velhos cacos de vidro

Imundos,agora é ranzinza.

Os velhos letreiros não calam

Nem falam, mas parecem aflitos;

Marcas de mãos, pixadores e

Grafiteiros, ameaçam a propaganda

Que já não propaga.

Mais embaixo, marcas de urina

De mendigos, cachorros

E umidade que sobe da terra.

Do lado, meio torto e sem autoridade,

A parede diz:

"Jesus te ama", ninguém ouve;

Quem acredita numa parede

Tão pobre, desbotada e esquecida?

Mas ela parece acomodada

Com a sua sina.

Reboco quebrado, musgo e urina...

Distraída, nem vê a imensa bola

De demolição singrando:

E BUM! Agora, sangrando...

O que seria essa violência

A roubar a paz da criatura?

Era a pré feitura do Estado,

Do estrago, da loucura...

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 20/10/2010
Reeditado em 22/10/2010
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