O silêncio da parede
A parede está calma...
Não deve, não treme,
A cor não é quente nem fria
É cor de gente, creme...
As escritas convidam, conclamam
Os passantes apressados,
Indiferentes.
As rachaduras nem esquentam
Com o reboco que cai.
Os tijolos agradecem
E respiram a cada ruptura.
A pintura era nova,
Agora, nova era.
Os desenhos, apesar do musgo,
Continuam atentos.
A chuva cai de leve,
Fazendo a sua vêz, erodindo
Mais um pouco do reboco que resiste.
A parede parece triste...
Cadê as pessoas? Que importa?
Não tem porta.
Até a janelinha de ferro podre
Está torta;
Era cinza,porém,
Com seus velhos cacos de vidro
Imundos,agora é ranzinza.
Os velhos letreiros não calam
Nem falam, mas parecem aflitos;
Marcas de mãos, pixadores e
Grafiteiros, ameaçam a propaganda
Que já não propaga.
Mais embaixo, marcas de urina
De mendigos, cachorros
E umidade que sobe da terra.
Do lado, meio torto e sem autoridade,
A parede diz:
"Jesus te ama", ninguém ouve;
Quem acredita numa parede
Tão pobre, desbotada e esquecida?
Mas ela parece acomodada
Com a sua sina.
Reboco quebrado, musgo e urina...
Distraída, nem vê a imensa bola
De demolição singrando:
E BUM! Agora, sangrando...
O que seria essa violência
A roubar a paz da criatura?
Era a pré feitura do Estado,
Do estrago, da loucura...