Um Aprisionado Uterino
Eu estou tentando nascer, mas não consigo.
É assim que me sinto: numa luta uterina intensa, numa tentativa de ver a luz do mundo de fora...mas não consigo escapar do mundo de dentro.
Como o universo seria diferente caso eu nascesse...
Eu seria a solução para os males vulcanianos negros, para as desarmonias nebulosas da natureza, para os desencontros malignos das trevas.
Eu seria uma luz resplandecente nos pólos, uma chuva cristalina de esperança, o sorriso eterno de quem corre, o bocejo descansado de quem alcança.
Mas não nasço, sinto-me preso entre correntes, por trás de uma porta de aço.
Mas rogo a algum ser eterno (se é que no assento étero habita alguma grandeza suprema) que se compadeça de mim e conceda-me, ao menos, uma encarnação mínima, nem que seja para gozar de poucas respirações humanas e rapidamente vir a óbito, pelo menos assim, ficarei em paz, descansarei em paz, sabendo que nasci tempo suficiente para sentir a dor da morte.
PROFANO