POEMA DO NADA
Quero a palavra vazia;
Aquela jamais ditada,
A palavra inócua, fria,
Ao meu poema do nada.
Um verso vago, preciso,
Expor o nada do tudo,
Compor meu verso indeciso
No meu poema mais mudo.
Necessito entrar no vão
Da imaginação fugaz,
Sustentar-me sobre um chão
Da maior nudez capaz.
Inserir a morte viva
No vau da inexistência,
Quero a palavra incautiva
Zerada da reticência...
Na vaguidez inconcreta
Da redoma toda vazia,
O verso sem seu poeta
Poema sem poesia.
Buscar a palavra morta
À existência do estio,
A razão de uma porta
Se dentro é tudo vazio.
Talvez ela já exista
Porém, de mim se esconde,
Que não quer jamais ser vista
Pra eu usá-la sei onde...!
Mas, quais vazios eu procuro
À palavra procurada,
Se preencho o oco escuro
Com meu poema do nada?