PÓS-ADOLESCÊNCIA II

Abro um livro

e, ao invés de páginas

enxergo um espelho

e nele vejo um velho,

um idoso

com o rosto

triste e rugoso

sufocado no bócio

embotado no ócio,

quase inerte.

E ele me olha

e esboça

um sorriso

- um aviso? –

mas, viro as páginas

e folheio o livro

e ele está

sempre lá:

aquele ancião

de brancos cabelos

e calos nas mãos

que me observa

e fita o seu olhar

no meu

E, de repente,

dá uma piscadela

e no seu olhar

vejo uma janela

que se abre

para sua alma.

E naquela cansada

pupila

enxergo um poço de calma.

Porém, insisto

em continuar a ler (ver)

o meu livro

quando, por acaso,

abro numa página

e aquele velho

está lá

sereno e grave.

E, com seus lábios

ele ameaça me falar...

Viro a página

para poder ouvi-lo

mas,

não dá tempo.

O livro acabou

e não consegui

escutar

nada do que ele

queria falar...

E, quando fecho o livro

sinto um cansaço

no meu corpo

e um vazio enorme

no meu coração,

e vou, angustiado,

tentar dormir

sobre os cacos de vidro

que estão no

meu chão.

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 17/06/2005
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