PÓS-ADOLESCÊNCIA II
Abro um livro
e, ao invés de páginas
enxergo um espelho
e nele vejo um velho,
um idoso
com o rosto
triste e rugoso
sufocado no bócio
embotado no ócio,
quase inerte.
E ele me olha
e esboça
um sorriso
- um aviso? –
mas, viro as páginas
e folheio o livro
e ele está
sempre lá:
aquele ancião
de brancos cabelos
e calos nas mãos
que me observa
e fita o seu olhar
no meu
E, de repente,
dá uma piscadela
e no seu olhar
vejo uma janela
que se abre
para sua alma.
E naquela cansada
pupila
enxergo um poço de calma.
Porém, insisto
em continuar a ler (ver)
o meu livro
quando, por acaso,
abro numa página
e aquele velho
está lá
sereno e grave.
E, com seus lábios
ele ameaça me falar...
Viro a página
para poder ouvi-lo
mas,
não dá tempo.
O livro acabou
e não consegui
escutar
nada do que ele
queria falar...
E, quando fecho o livro
sinto um cansaço
no meu corpo
e um vazio enorme
no meu coração,
e vou, angustiado,
tentar dormir
sobre os cacos de vidro
que estão no
meu chão.