A PARTIDA SEM BEIJO

Era a hora de partir
Assim sem sinais
Num sobressalto
Num hiato gaiato
Num vazio sereno
Não deu tempo de avisar ninguém
Nem aos parentes distantes
Nem a quem eu queria dizer adeus de fato
Não consegui fazer nada do que quis
Do que sempre teimei em adiar
Dos livros que nunca li
Dos papéis que não rasguei
Dos sonhos que não digitei
Do desarrumar para um dia arrumar
Nem deu tempo de todos, abraçar
Eu me fui num estalo, num piscar de olhos
Num impacto sem clarim, num passe de mágica
No pronunciar da palavra “pirlimpimpim”
Eu fui me esvaindo, me desfiapando, me diluindo
E tudo o que nunca quis foi morrer assim
Na verdade eu sempre quis morrer...
Contudo nunca tinha pensado como seria essa ansiada e temida ida.
Existe uma maneira especial de dizer adeus a tudo, a todos e ao mundo?
Só deu tempo de um breve aceno num pesar, num suave marejar
E quando dei por mim eu não estava mais aqui...
Tinha dado meio volta, virado de costas e já estava tão longe
Que não deu nem tempo de dar um beijo em mim.
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 24/09/2010
Código do texto: T2518637
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