OUTONO... Não estás só
Olho pela janela do meu quarto.
As folhas caem lentamente com a brisa fria.
É outono…
Úmidas manhãs… tardes tristes… noites frias.
Posso perceber na face das pessoas o cair do outono…
Na ausência das cores… da alegria.
Os vários tons de cinza e marrom preenchem agora as pessoas.
Nas suas almas… nas suas vestes… nos seus gestos.
Tenho a nítida sensação de que o outono nos rouba a alma.
Preciso acreditar que o outono…
Consiste em muito mais do que uma simplória estação.
Em sua veste tão densa… traduz-me e faz-me pensar…
Na grande decepção e lamento… do tempo, da vida… em sua tradução.
Por todos os amores desfeitos…
Por todos os adeus que foram dados…
Por todas as esperas do que nunca veio…
Das promessas nunca cumpridas…
Do que se sonhou e abortou-se em sonho…
E se faz outono.
Começo a lembrar-me que há estações em nós…
Assim como no tempo.
E quando é outono em nós… é hora de desfazer-se.
É hora de fechar ciclos… limpar-se a alma.
Chego a sentir a dor do outono.
Pobre outono… acompanhado pela marcha dos tristes.
De vestes tristes… de cores tristes e rostos molhados.
Compreendo-te, outono…
Precisas mesmo mergulhares em ti mesmo.
Não… não posso acompanhar-te… perdoa-me.
Ainda é sempre primavera em mim…
Mas prometo contemplar-te por todos os teus dias de passagem… da minha janela.
Saudar-te com o meu aceno mais afetuoso…
E comemorar contigo cada renovação tua.
Vem, outono. Renova e renasce…
Caminha em paz sob a minha janela.
Karla Mello
Setembro/2010