O Eterno
Consumia-me o tempo
Abandonava-me o alento
Sentia-me tão sedento
Em sonhos, veio-me o oráculo
Olhos turvos, de essência o próprio vácuo
Milênios em sabedoria, morada do fantástico
"Voa, pequena alma, incertos são os ventos
Amargo é o sangue do profeta, infaustam-no tantas eras
Voa, pequena alma, selvagens são teus pensamentos"
Entregava-me ao ocaso
Tomava-me oceano de mágoas todo o espaço
Afogava-me o passado, em repulsa, reprimidos passos
Subterrâneos corredores, do louco o refúgio
Olhos fechados, um ser não convidado em mergulho
Outrora estelar carbono, ora vulcânico telúrio
"Voa, pequena alma, sob jugo do tempo todos cedem
Uma bússola aos que ditam-se o caminho, a verdade e a vida
Voa, pequena alma, abrem-se os portões do lado escuro do Eden"
Admoestava-me o guardião contra os vícios e corrupções
Apontava-me o grão-vizir infindos horizontes e constelações
Ensinava-me o magista: irredutível é o tempo, curtas as paixões
Espaço curvo, vão-se ao limbo ciências e filosofias vãs
Areias da eternidade extirpando orgulho de apodrecidas maçãs
Decomposição de conformidade, novas rochas, mentes sãs!
"Voa, pequena alma, lança teus ecos em asas mundanas
Insuportável solidão impõem-me tantos olhos a me cercar
Voa, pequena alma (à eternidade), liberta em linhas euclidianas"