Pontos distantes
Do ventre ao túmulo
Carregamos um corpo e muita mágoa
Carregamos os farrapos que encobrem vergonhas
Carregamos tatuadas as mãos que nos embalaram, nos agrediram
E no final, nos guiam até o jazigo perpétuo
Mas diante da morte,
Tudo é tão efêmero,
Tudo é tão instante...
E essa chuva fina a pingar as imaginárias lágrimas
Sobre a morte e o silêncio que há em volta dela...
Do ventre ao túmulo
Muitas lápides se erguem a avisar
Os passantes de nossa existência, de nossa dor,
De nossa consciência banida
Pelas ilusões da infância,
Pelos romances da adolescência
Pelas decepções da idade adulta
E da decadência inafastável daqueles
Que vos saúdam pois sabem dia após dia
Que irão morrer, e que ainda morrendo,
Acenam com a vida por entre as palavras,
Gestos, sílabas, faces e, sobretudo
Pelo movimento peristáltico
De nascer, de expulsar a vida...
E rasgar os pulmões para dominar
o primeiro feudo de oxigênio
E rasgar a alma para as emoções
nascendo a cada dia,
a cada noite, na surdina dos vãos
E durante os eclipses
Vem as reflexões,
Contrastar tanta crueldade com a
genialidade.
São pontos distantes e,
ao mesmo tempo
congruentes...
o ventre materno,
o ventre da terra.