Pontos distantes

Do ventre ao túmulo

Carregamos um corpo e muita mágoa

Carregamos os farrapos que encobrem vergonhas

Carregamos tatuadas as mãos que nos embalaram, nos agrediram

E no final, nos guiam até o jazigo perpétuo

Mas diante da morte,

Tudo é tão efêmero,

Tudo é tão instante...

E essa chuva fina a pingar as imaginárias lágrimas

Sobre a morte e o silêncio que há em volta dela...

Do ventre ao túmulo

Muitas lápides se erguem a avisar

Os passantes de nossa existência, de nossa dor,

De nossa consciência banida

Pelas ilusões da infância,

Pelos romances da adolescência

Pelas decepções da idade adulta

E da decadência inafastável daqueles

Que vos saúdam pois sabem dia após dia

Que irão morrer, e que ainda morrendo,

Acenam com a vida por entre as palavras,

Gestos, sílabas, faces e, sobretudo

Pelo movimento peristáltico

De nascer, de expulsar a vida...

E rasgar os pulmões para dominar

o primeiro feudo de oxigênio

E rasgar a alma para as emoções

nascendo a cada dia,

a cada noite, na surdina dos vãos

E durante os eclipses

Vem as reflexões,

Contrastar tanta crueldade com a

genialidade.

São pontos distantes e,

ao mesmo tempo

congruentes...

o ventre materno,

o ventre da terra.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/09/2010
Código do texto: T2505444
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