Folha branca 2

Que aflição.

Me dói os nervos

Ver uma folha assim tão branca

Tão clara, com linhas tão retas.

Sem um pingo, sem um ponto, sem uma virgula.

Sinto o enorme desejo de mancha-la

Com minhas letras agarranchadas.

Enche-la dos meus tédios bem vividos.

Tirar-lhe a clareza e mergulha-la

No breu das minhas angustias.

Roçar-lhe a ponta dura do meu lápis

E vê-la abrir seus caminhos para mim

Linha por linha, espaço por espaço

Como uma dama sozinha em um beco escuro

Arregaça-la sobre qualquer superficie lisa

E preencher-lhe a existência fria.

Derramar-lhe o líquido viscoso

Do meu instrumento insaciável

Desenhando meus mais sórdidos desejos

Contaminando-lhe a superfície alva.

Importuna-la até que esta corra

Pra longe de mim, e espalhe por aí

Os meus segredos, vingando-se assim

Deste total infortúnio.

William Urick
Enviado por William Urick em 11/09/2010
Código do texto: T2492294
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