O POETA E OS IPÊS AMARELOS
Quisera eu compreender a beleza dos ipês amarelos,
que ousam colorir o agosto sem esperar a primavera.
Nas matas, solitários e belos, assistem ao meu olhar,
inebriado, enfeitiçado, sem entender-lhes o propósito.
Ostentando os encantos, ainda que presos às raízes,
sorvendo seiva do solo bruto, alçando galhos ao alto,
será que sonham levar as suas flores ao firmamento,
antes que elas murchem e caiam atapetando o chão?
Será que antecipam a sua chegada, antes das outras
belas, no afã de enfeitar as agruras secas de agosto?
Ou florescem mais cedo para ver perdurar seu sonho?
Triste sina a dos ipês, se jamais eles tocarão o céu,
é como sina de poeta, colorem de poesia, os sonhos,
antes que eles esmaeçam, trazendo triste desilusão.
Em versos brancos traça rumos, rotas de esperança,
cismando, busca entre estrelas o brilho do amor real,
fantasiando e sublimando as dores dos amores vãos.
Triste sina, jamais tocará as estrelas preso ao chão.