Um quadro não acabado
Nas curvas das ondas navego
Nesse imenso mar de solidão
Amor passa e não pego
Beijo dado e nem ligo
Quero todo o cinza que restou
Quero o lado torto desse amor
Aquele encontro não dado
O tempo ainda não cedido
Os olhares ainda não cruzados
A beleza de se saber existir
As noites que estão por vir
Não quero um encontro qualquer
Desses que a gente vê por aí
Prefiro aquele que nunca sonhamos
Onde nem sequer imaginamos
Tudo o que podemos fazer
Um bailado esquisito e sem nexo
Com suaves e acústicas maresias
Onde a voz é perfumada e sem som
As pernas confusas sem passos
Uma reta cheia de traços
Dentro de gotas de suor
Enquanto não acontece a viajem
Dentro dessa imensa paisagem
Pinto minha tela nua
Onde a cor não faz falta
E a realidade custa a chegar
Concretizo minha fantasia
Sem sequer ver que chega o dia
Com o sol a me queimar
Coloco minha enorme capa
Visto a roupa da insensatez
Viro gente outra vez
E começo a chorar
As lágrimas molham meu rosto
E cheia de vontade e gosto
Volto o rosto a iluminar
Penso no lugar inexistente
Onde tudo é como quero
E ouço minha voz a cantar
Tenho o dom da miragem
Onde coloco a paisagem
Por onde você vai passar
Naquele lugar conhecido
Em que vejo barcos passando
Você vem caminhando
E volto outra vez a sonhar
Que um dia podemos olhar
O mesmo infinito distante
Diante do imenso mar.