Um quadro não acabado

Nas curvas das ondas navego

Nesse imenso mar de solidão

Amor passa e não pego

Beijo dado e nem ligo

Quero todo o cinza que restou

Quero o lado torto desse amor

Aquele encontro não dado

O tempo ainda não cedido

Os olhares ainda não cruzados

A beleza de se saber existir

As noites que estão por vir

Não quero um encontro qualquer

Desses que a gente vê por aí

Prefiro aquele que nunca sonhamos

Onde nem sequer imaginamos

Tudo o que podemos fazer

Um bailado esquisito e sem nexo

Com suaves e acústicas maresias

Onde a voz é perfumada e sem som

As pernas confusas sem passos

Uma reta cheia de traços

Dentro de gotas de suor

Enquanto não acontece a viajem

Dentro dessa imensa paisagem

Pinto minha tela nua

Onde a cor não faz falta

E a realidade custa a chegar

Concretizo minha fantasia

Sem sequer ver que chega o dia

Com o sol a me queimar

Coloco minha enorme capa

Visto a roupa da insensatez

Viro gente outra vez

E começo a chorar

As lágrimas molham meu rosto

E cheia de vontade e gosto

Volto o rosto a iluminar

Penso no lugar inexistente

Onde tudo é como quero

E ouço minha voz a cantar

Tenho o dom da miragem

Onde coloco a paisagem

Por onde você vai passar

Naquele lugar conhecido

Em que vejo barcos passando

Você vem caminhando

E volto outra vez a sonhar

Que um dia podemos olhar

O mesmo infinito distante

Diante do imenso mar.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 27/08/2010
Código do texto: T2462916