Sou o que Restou de Mim

Deixei de viver no instante em que nasci, pois entrar na existência foi uma lástima para mim: meu sorriso foi apagado antes mesmo de sorrir. Mas nasci. Eu nasci.

A Biologia explica a corrida dos espermatozóides.

O Cristianismo explica o plano de um Deus.

O Espiritismo explica a reencarnação de uma alma.

Não quero saber. Explicam e complicam muito as coisas. Eu não sei quem me trouxe a existência, pois caso soubesse, me vingaria deste mal irreparável que me fez.

Sim: Vingança!

Porque não me deixaram lá, no meu Além, com os seres elementares que me cercavam: duendes, gnomos, borboletas gigantes: eu era feliz lá. Quantas saudades de casa, daqueles jardins negros com marrons pincelados em tudo. Eu brincava, corria, sobejava. Lá.

Hoje tenho essa tal humanidade em mim. Dizem que sou humano. Eu tento aceitar, mas não consigo. O meu consolo é ainda sentir que tenho um pouco da Essência do meu antigo lar: O lar antes de eu nascer. Quero voltar pra lá, vestir, outra vez, a minha vida antes de ser vida. Contento-me com os Restos de mim que tenho nesse corpo efêmero e Condenado. Por isso, quando me perguntam: Quem és tu? Eu respondo quase-feliz: Sou o que Restou de Mim.

O Bruxo

Profano
Enviado por Profano em 26/08/2010
Reeditado em 29/08/2010
Código do texto: T2461574