Escultor de si

Cruza no horizonte o sol vermelho.

Há de amolecer cada pouco q'inda resta.

Queima minhas mãos, que aos poucos se esvai

e dana meu corpo que aos poucos se constrói.

Areia fina, o meu nascer atesta!

Hei de usá-la, pois é tudo que me resta.

Tua estranha malha de tantos grãos fora tecida!

Se então vives pelo fogo, morrerás então pela vida!

Entrelaço cada fio de consciência.

Adequo o tempo, forjo meu espaço.

E tendo em mim cada ponta de aço,

transformo, mudo e reconheço.

As dunas em cores, brasas

nuvens quentes, esparsas

De longe um homem em branco

só de osso ergue, enverga o braço

Como pode enfim do nada

assim vida conjurar-se do espaço?