Abra-te Sésamo
Vendas não apenas nos olhos que carregais,
Vendas em cada ducto de alma,
Certa escuridão nos traz a invisibilidade
Diante de qualquer par de ocelos mórbidos.
Abra teus olhos, arranque essas vendas...
Não esconderás a janela da alma,
Pois não é o que os olhos se tornam?
Abra o espelho da amálgama,
Deixe a luz atravessar os corpos translúcidos
Até que o Nanquim contorne-se em delineador.
É só abri-los para notar as nuvens negras que se aproximam
À ver brotar cotilédones das flores do mal,
Ceifá-las com mil espadas de luz,
A luz que a retina capta, seiva
De manter abertos os olhos da verdade.
Até quando será justiça cega por nós?
Que de tão cega não enxerga os crimes, fato!
Abra seus olhos e os da verdade anciã,
Para que a justiça possa bem enxergar
De qual sangue seu florete tem forjado pétalas.
Não deixe a porta do espírito apenas entreaberta,
Assim te tornarás um abismo sem fundos,
Nenhum cavaleiro fará continência ao frio de teus olhos,
Nenhuma rosa será humilde a despetalar ao teu lado,
O celibato do mundo pertencerá aos acordados.
Na escuridão tudo é relativo, tudo se consome,
A treva aceita qualquer coisa, tudo é igual,
Cria inimigos que não existem e se diluem,
O medo encarna formas de tormento do metal.
Tire essas vendas, abra seus olhos, Abra-te sésamo!
Como é bom dar luz às telas do afresco,
Levantar a fenda dos elmos, pintar cores vida
Em cada movimento sutil de um Samurai algoz
Até as cores morte de sua lâmina plúmbea
Que está de olhos alerta, sempre atentos, se reveste de chamas.
Tire as sombras de dúvidas, a venda sombria
Abra teu sésamo e veja
A luz que clama
E é chamada
Dia.