ÁRVORE DO TEMPO
Nos somos um só corpo e um só espírito,
Eu e você Árvore-velha-encantada,
Uma paisagem tão escura perdida numa tela,
Uma tela sem arte e sem cor,
Mas que reflete a dor de um artista.
Não é bom Árvore-velha-encantada
Que depois de tantos anos
Só me destes furtos de eterna agonia,
Mas a agonia que depois sinto
Transforma-se em sonhos de esperanças
De um desejo maciço e sem receio.
Mostre as sementes de um novo-velho-amanhã
Para que eu possa plantar na sala de estar,
Porque lá tudo parece tão frio,
E tudo é tão frio...
Mas a arvore que nascer dessa semente
Não se chamará mais Árvore-velha-encantada,
Que desabrochou para o vento lhe levar,
Chamar-se-á Árvore-de-um-novo-amanhecer
E carregará nos galhos somente um furto.
Este fruto não terá sementes nem flores,
Só cairá na boca de um faminto
Que não sente fome, nem sede, nem sonho...