ÓPERA DA MORTE
Um sininho anuncia! Toca um acorde na melodia!
Em seguida, vai se abrindo uma linda cantata,
Na dulcíssima voz que traz a tristeza e alegria.
Criaturas estranhas de mim começam a escapar,
Saem, e sobrevoando o meu corpo, rodeiam-me...
São como anjos sem rostos querendo me atacar.
Ao mesmo instante nos graves solos do tenor,
Outros seres aparecem e afastam os invasores.
Do choro ao sorriso, dor que vai até ao louvor.
Expiação que é felicidade, de um aperto no coração,
Uma inteira vontade de estar somente no meu céu...
Com as batalhas dos instrumentos em luta e emoção.
Oboés e flautas lastimosas seguem aquele lúdico piano,
Nos toques suaves das cordas da harpa eu alço um vôo,
Canção que parece me penetrar na voz de uma soprano.
A grande opera, em vida dupla já me transformou,
Devagar... De meu pungente alvéolo eu vou saindo...
Para outra dimensão agora, essa sinfonia me levou.
No meu rosto extasiado, a cada lágrima que rolou,
Tem o significado de uma extrema e intensa paixão,
Que estava presa, e essa penetrante canção livrou.
Tudo que é venerado, me apareceu muito de repente,
E foi-se embora num sopro que durou uma eternidade,
Depois de ter se quebrado esse muro em minha mente.
Os tambores repicando em frisson no timbre dos pratos;
Violinos intensos e sôfregos entram na minha clara alma.
Minha pele arrepia, revivo em mim todos os meus fatos...
O coral que canta alto, me assombra em contentamento;
Tenho vontade de gritar e grito expulsando os horrores,
E no meio dessas dores, ouvindo o som, eu morro lento...