O SONHO: REENCONTRO
Me perdi em meus pensamentos
E tentei me encontrar
O mundo deu voltas
Onde é o meu lugar?
Meus olhos estão tão secos e áridos
Não sei em que terra poderei semear
As sementes me fogem
Como uma miragem distante a se formar
Vejo-me diante de um espelho estilhaçado
A face partida para todos os lados
Procurei lhe encontrar
Senti apenas o sangue a me escapar
No peito senti dor maior
Tentei superar
A menor das perdas
Fez-me chorar
Tentei reagir
Do meu vestido, um pedaço de pano parti
Um remendo inventei
Um curativo se fez...
...
Mais uma vez procurei me encontrar
Na beira de um lago
Pus-me a passear
Num canto sentei
Procurei respirar
Mas o ar me faltava
Estava difícil suportar
Para o lado olhei
A imagem turva da minha face a formar
As lágrimas regara a seca
Mas afogara as sementes
Impedido-as de florar
Com o dedo ferido
Tentei dissipar
Como um quadro com tintas
No lago tentei a imagem mudar
Mas, um ardor eu senti
Àquelas águas amargas
Minha ferida, fez ferir
Resolvi então partir
Ao quarto voltei
Na cama deitei
Nela adormeci
Quando acordei
Estava a sonhar
Com uma brisa tranquila
A minha alma resfriar
Do espelho lembrei
Procurei me encontrar
Vi apenas uma moldura
E um caminho a se mostrar
Nele eu entrei
Com meus pés senti
A relva verdejante
De um mundo que nunca encarei
Sem medo segui
Sem saber onde ia
Mas, minha alma liberta
Sentia alegria
Tão logo cheguei
Ao lago que partira
Na hora percebi
Que a margem que antes eu estava
Se fazia no outro lado da minha vista
As águas brilhantes
Estavam convidativas
Não tive medo
Mergulhei sem medo das minhas feridas
Quando do outro lado cheguei
Um quadro se mostrou
Escuro e sombrio
Que por momentos me assustou
Mas, meu coração palpitante
Meus pés encorajou
Segui em meio a escuridão
Logo me encontrei
Com espelho que cortara minha mão
Foi quando pelos pedaços partidos
Enxerguei meu coração
Senti pena, senti dor
Um pouco de alívio quis trazer
Para àquele rosto ferido
Pela falta do seu amor
Mas não tinha uma porção, não tinha uma lógica
Sabia que tão logo acordasse
Partiria daquele estado de graça
Então uma solução achei
Como num lado de mundo mágico
Um novo espelho encontrei
Com tintas desconhecidas
Num canto pintei
O céu azul que deste lado via
O verde vibrante da flora viva
O frescor do orvalho
A beleza das rosas nativas
Com um beijo soprei uma brisa
Para aliviar o coração da dona da face partida
Ainda escrevi
Que em seu mundo
Estava por vir alívio para suas feridas
Terminada a missão resolvi partir
No caminho de volta
Algumas rosas colhi
Quando acordei
No quarto senti
Um aroma suave
Que me fez feliz
Não lembrava do sonho
Não lembrava da história
Apenas observei as horas que se foram embora....
Mas, quando olhei para o lado
No espelho meu rosto novamente vi
No coração uma alegria repousou
A face resplandecente de uma linda moça se formou
Um beijo na rosa cedi
Um sorriso brotou
Enfim, a hora do reencontro chegou
Fernanda Alves
29/07/10