Sonhar com o desconhecido
Talvez a vida não seja mesmo feita de quimeras,
Mas sem devaneios tudo fica um tanto sem recheio,
Sem sabor, senão vazio, apenas quase ao meio.
Mesmo que a vida não seja de êxtases,
Sem nostalgia fica quase vazia.
Ainda que os sonhos sejam quase sempre
Por muitos tratados como sentimento ocioso,
Sem eles, o viver, ainda que aparentemente repleto
Não passa de um imenso oco.
Eu quisera p’ra sempre ser um pouco devaneio,
Um tanto desejo e outro tanto quimera.
Quiçá que cada verso poético não seja interpretado
Como o enigma da ociosidade, tampouco o mapa da futilidade
Mas que o poeta seja sempre nostalgia, não pretérita
Mas presente, futura e perpétua, porque viver e sonhar
É bem melhor do que cedo ir sem ter se entregado
À vaidade de se imaginar no desconhecido.