Partirei... Logo partirei!

Ladrão!

Tantos corpos pelo mundo clamando a serem seqüestrados,

Outros ainda lhe implorando a sua atenção

E insistes em roubar logo o meu!

Roubas o que ainda me é útil.

Descoloriu meus cabelos,

Colocou rugas em meu rosto

E a força que me participava se esvaiu,

Ainda desce ao ralo quando me banho.

A amada com quem sonhava

Tornou-se uma megera cruel.

Meu coração, que por ela era acarinhado,

Agora, é por ela mesma, esfaqueado.

Seu ar bondoso não mais existe,

Já não sei se um dia veio a existir.

A bondade ainda me habita,

Mas ela não me serve de mais nada.

Fragmentei-a e a distribui aos porcos,

Os mesmos que nomeio sentimentos.

Por que ressuscitou esses sentimentos?

Não os queria mais, por isso os matei.

Agora eu sou forçado a conviver com eles

Só por que tu queres assim?

Meu sonho já tomou.

Os sentimentos que me reinam, não são nada,

Nunca foram e nisso me enganava.

Acreditava na força dos sonhos.

O amor era o máximo de felicidade que podia existir.

Hoje sei que sonhos não existem

E que o amor é uma glândula chamada hipófise,

Que aproxima dois perdidos, os iludindo na farsa

De que o amor é misterioso e mágico.

Tu és insensível.

Matou uma criança.

Poluiu meu pensamento.

Quem me dera imortalizar alguns momentos.

Quem me dera ter abraçado meus sonhos

E tivesse defendido.

Se a tua opinião não fosse tão importante!

Se os teus lábios não fossem tão sedutores!

Se os teus caminhos não fossem tão sinuosos!

Se os teus olhos não fossem tão convidativos!

Ah se a tua presença não fosse a minha ausência!

Quem me dera pisar em minhas lembranças.

Ah se eu pudesse trancá-los no caixão, junto com esse corpo,

Que o teu ilustre aprendiz me rouba.

Mas não posso fazer nada.

Deixei que o tempo me agisse

E agora, não adianta as minhas lamentações.

Dado não é roubado,

Sou merecedor dessas chicotadas que recebo.

Minha juventude não lhe serviu

E os meus sonhos não te alimentaram

Em nada mais posso lhe ajudar.

Só me restaram as marcas, também as quer?

Os meu rosto já roubou e os meus olhos também,

Me conclui que este espelho já não me serve,

Então o leve, faça do meu rosto, ainda nele emoldurado,

Um presente que lhe dou de bom grado.

Só não me tire a lucidez,

Pois quero estar certo de mim

Quando sua mestra vier me buscar.

Quero sentir seu doce abraço, ainda que frio.

Com ela trocarei beijos que me conduziram ao nada

E assim, ilustre tempo, estarei livre de ti,

Não sendo mais alvo de seus castigos.

Aproveite o tempo que lhe pertence,

Sugue minha vida enquanto pode,

Mas logo partirei... Logo partirei!

Dsoli