Pedra filosofal

(galos e pedras na minha vida)

Cocoricó, cocoricó...
Cocorocó, cocorocó...
Mais um dia de dura lida,
Dia duro no sol da vida...
A pedra é dura e sólida,
Pedrinha, pedrisco,
Pelo terreno espalhado.

Pipipi chamou o menino,
Lance de milho arremessado,
Às pedrinhas, misturado,
Corre-corre, alvoroço,
Vêm as aves para o cisco,
Vem o galo, senhor arisco.
Vigoroso galo emplumado,
Pelo terreno vem danado,
Com a espora, todo armado,
Cocorocó, cocorocó,
Batendo asas, apavorando,
Catando tudo seu bico afiado.

Pedra e milho ele comia,
Com agilidade engolia,
Gostosa refeição do dia,
Papo gordo, eta moela!
Se galo fosse profeta,
Na vida apenas cantaria.

Homem quer dia de vitória,
Conhecer o desconhecido,
Pedra prodígio, alectória,
O galo entra na história,
Não lê a sorte do menino,
A sua, será delicioso cozido!

Lembro-me do guri, eu velhinho,
Das penas daquele galinho,
Na coberta acolchoada,
Na janela, a petecada,
Da algazarra no terreiro,
Das guerras de travesseiro.

O primeiro cocoricó,
Era do galo aleijado,
Das aves em dor era Jó,
De pintinho fora pisado,
Vida de frango atrofiado,
Era um pobre confiado,
A todos causava grande dó!

O segundo cantava cocorocó,
Galo lindo, bonito, de porte,
Vermelho, azul, marrom forte,
Galo de bela cantoria,
Dele tiraria a pedra,
Moela frita, eu comeria,
Aquele galo não viveria!

Restaram-me os galos da vida,
Das moelas, pedrinhas,
Ali encontrei a PEDRA,
Pedra filosofal, polida,
Pedra fina, bijuteria,
Falsa pedra de joalheria,
Ou uma preciosa jóia,
Enriqueces alguma vida?

Pedra tosca, droga pálida,
Pedra derretida e gélida,
Pedra ilusória do nóia!
Pedra trabalhada, afeiçoada,
Estátuas, pedras de sabão,
De Aleijadinho, artística produção,
Pedra dos jogos de gamão,
Pedra grosseira, lascada,
Pedra da ara, sagrada,
Pedra de sacrifício e oração,
Pedra de construção, britada,
Pedra escândalo do coração!

Paredão de pedra, encosta,
Montanha, rochedo, penhasco,
Pedra afunda, não nada de costa,
Prato rústico, pedra-e-cal,
Churrascada, pedras de sal,
Pedra da lousa, ardósia, escola,
Com olhar de pedra, um jogral,

Uma pedra, pedra nada inteligente,
Acertou no coitado uma pedrada,
Cabeça oca, um vazio de puro nada...
Dorme o coitado profundamente,

Sobre o corpo a pedra posta.
Lê-se, naquela lápide sepulcral:
“Sob esta pedra jaz um indigente,
Não sei se era culpado ou inocente.”
Geraldo Mattozo
Enviado por Geraldo Mattozo em 19/06/2010
Reeditado em 03/06/2020
Código do texto: T2328573
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