ALMAGESTO

Eu queria ser uma estrela do céu
Eu queria ser uma gota do oceano
Eu queria ser um grão de areia da praia
Eu queria ser um corpo celeste do universo
Eu queria ser um verso de Drummond
Eu queria ser uma tela de Dali
Eu queria ser uma bandeirinha balançando em arraial junino num dia de domingo.
Eu queria ser o amanhã que nunca chega.
Eu queria ser a neve no alto do Everest.
Eu queria ser uma alga no fundo mar sem fim.
Eu queria ser uma migalha de pão jogada aos pombos.
Eu queria ser um barquinho de papel descendo na água da chuva.
Eu queria ser qualquer coisa sumindo no ralo da pia, sem que desse tempo de pegar.
Eu queria ser um óasis perdido no deserto do Saara.
Eu queria ser o lampejo de lucidez de um insano.
Eu queria ser o último sorriso com dente de um banguela.
Eu queria ser o último urro de vida de uma fera.
Eu queria aquele olhar de adeus perdido na lembrança de um cego.
Eu queria ser os raios de sol que entram pelas frestas de uma cela.
Eu queria ser a luz da vela que apaga de repente com um a entrada de ar.
Eu queria ser as folhas secas das árvores levadas pela ventania.
Eu queria ser o que nunca serei...
De uma forma única e indescritível...
Para fazer diferença em coisas desiguais e inconcebíveis
Eu daria tudo para não ser quem sou, nem pai, nem filho, nem avô
Eu queria sair do sufoco que é andar por ai perambular....
Sem a mínima noção de quem se é e nem onde se está.
Ah, eu queria não ter motivos para me ver em cada olhar que me olha como se eu não estivesse a olhar.
Ah, eu queria...
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 17/06/2010
Código do texto: T2326135
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