Abstrato

Quero crer, mesmo que não veja

Cego talvez para este mundo...

Quero inclusive ser

Tolhe-me a alma permanecer

Creio fácil no absurdo,

Abstraio mais que penso

Tudo e nada em um segundo.

E, ao crescer,

Vejo-me assim suspenso

Fora de padrão e moldura

É efervescência,

Mas dirão: loucura!

É até inocência -

Só não sei se pura...

Criança, jovem, anciã

Sou homem, mulher e fome

Gosto do corpo, mais da alma talvez

Abstraio – sempre e a cada vez.

Quem me beija a boca, morde a maçã

Sussurra meu nome

Quer me invadir

Com você por dentro eu quase existo,

Mas não tenho tempo e preciso ir.

- Quero tanto

Esta noite, manhã!

Deito, mas sem você, não consigo

Visito outro planeta

mas volto pelo perigo.

O Bem que faço

é minha Crença

Minha mãe, abduzida,

E agora? Só ausência.

Fatal. Doente. Ferida…

Mas abstraio e pronto: sou querida!

Quero crer no mistério que me excita

Que diz sim ao corpo e à minha alma grita!

Serei uma, porque posso ser várias.

Allegro - Alegro, andante entre árias...

Creio em Deus, elogio a Perfeição

E eu só consigo errar - erro sem cessar

Olho para a página apressada, aguardando

Mas vai ficar aí, branca e atemporal

Pronta mas sem ambição

Lida, sem saber o que será

Até que ignore meu comando

E busque em si, transparência e sal

E que revele só o que não é certo

Esqueça afinal que estou por perto

E fale de um enlevo, desvario ou distração

Até que veja, sem acreditar

Meu sol num deserto em chuva e mar

Até que pare de me dar razão

E enfim se entregue à Abstração!

Claudete Mello
Enviado por Claudete Mello em 11/06/2010
Reeditado em 21/11/2015
Código do texto: T2313921
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