Era como que um rasgar intenso
o que se ouvia.
Um fragor longínquo e contínuo,
pano de fundo desse dia
gélido e pardacento,
fazia sobressair esse rasgar,
esse som áspero e pungente...
Um corvo crucitou o seu desagrado.
Saltitou sobre o gelo
movendo a cabeça numa negação
por ele não intencional.
Movia-o a fome.
Uma fome nunca saciada...
Árvores secas e contorcidas
marcavam o que antes,
muito antes,
eram sebes.
Campos quase vazios de tudo
estendiam-se brancos
apenas pontilhados aqui e acolá
por formas indistintas, imóveis.
Restos do que outrora fora
uma casa de lavoura...
O rasgar agreste subiu de tom.
O fragor tornou-se quase insuportável.
O corvo, assustado, levantou voo.
Um vento forte assolou os campos
levantando a neve mais fofa.
Um grito desolado elevou-se
quando a Nave, por fim,
se soltou do porto espacial
e rumou às estrelas
levando consigo,
adormecido,
o Último Homem da Terra...
Beijinhos,