TREVAS E LUZES NOS POEMAS

O poema não peca, também não é santo

Não quebra a regra, nem a faz

Não despe um, para a outro dar o manto

Empobrece uma rima e a rica não traz

O poema dirige os pensamentos

Levanta do chão o triste indigente

Abate o nobre com vis tormentos

E muda o comportamento de muita gente

O poema conduz os passos dos seguidores

Outorga direitos aos donos do mundo

Reclama dos deveres e infinitas dores

Enquanto o fiel passa pelo vale profundo

O poema não respira, não vive, mas não morre

Entretanto tem alma para o bem e para o mal

Conserva a autoridade, porém ao injusto socorre

Do escravo tira o jugo e ao patrão faz o tal

O poema é, da boca e do coração, amigo fiel

Aconselha o aflito e ao inimigo apavora

Às vezes é doce na mentira e, na verdade, é cruel

Dá abrigo à emoção e, a razão, manda embora

O poema confia na soleira da porta do sábio

E se distrai com a fala da boca de um tolo

Muitos louvores saem maliciosos dos seu lábios

E até a perfídia compartilha o produto de dolo

Janete do Carmo
Enviado por Janete do Carmo em 05/06/2010
Código do texto: T2300631