TREVAS E LUZES NOS POEMAS
O poema não peca, também não é santo
Não quebra a regra, nem a faz
Não despe um, para a outro dar o manto
Empobrece uma rima e a rica não traz
O poema dirige os pensamentos
Levanta do chão o triste indigente
Abate o nobre com vis tormentos
E muda o comportamento de muita gente
O poema conduz os passos dos seguidores
Outorga direitos aos donos do mundo
Reclama dos deveres e infinitas dores
Enquanto o fiel passa pelo vale profundo
O poema não respira, não vive, mas não morre
Entretanto tem alma para o bem e para o mal
Conserva a autoridade, porém ao injusto socorre
Do escravo tira o jugo e ao patrão faz o tal
O poema é, da boca e do coração, amigo fiel
Aconselha o aflito e ao inimigo apavora
Às vezes é doce na mentira e, na verdade, é cruel
Dá abrigo à emoção e, a razão, manda embora
O poema confia na soleira da porta do sábio
E se distrai com a fala da boca de um tolo
Muitos louvores saem maliciosos dos seu lábios
E até a perfídia compartilha o produto de dolo