CENA

PIXOXOS destemidos e cantarolando.

Arrozais que se entregam sem luta aos chineses, japoneses.

Água de arroz, pó de arroz na menina adolescente

que se enfeita aos dulcinéios.

Arruaça dos espantalhos na luz do sol quente,

dedilhando as palhas em armistício com os:

pixoxos, gaviões, garças, gangulas,

goviais, gelinotos nos arrozais, dormentes

no fértil solo e com as sombras das árvores

que enfeitam os arrabaldes.

Os tanques aceitam em silêncio,

as vibrações e ecos das fraldas e panos

que se enroscam nos montículos de concreto,

espalhados e incertos nas mãos da empregada da fazenda.

O frescor da sombra dos cubos e dos cones

e demais figuras geométricas depositadas

sutilmente ao lado dos arames farpados,

sempre vigilante tal qual soldados no quartel.

Os cadáveres fortalecem a terra

como substancia artificial e até melhor.

As luzes perpendiculares ou oblíquas,

de tal modo se aninharam num único ponto fixo

e os pixoxos nem ligando, continuam seu labor (cantarolar),

assim como os espantalhos, o seu.

Um copo de vidro que cai me desperta do torpor

que a cena me levava suave e melodiosamente.

E eu quase me deixo.

25-05-69

Wagner Marim
Enviado por Wagner Marim em 01/06/2010
Código do texto: T2294307
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.