Convite ao deleite
Eu sei que tu me espias...
Feito menino travesso
Sobes ao muro
À espreitar a vizinha
Amante voyer...
Pela fechadura admiras
Uma silhueta às escuras...
Imaginando as formas dessa mulher
Eu sei, desconfio do teu olhar...
Eu sei que tu me espias...
Deixas teus rastros de menino
Vens colher meus frutos,
Ouvir meu canto ou desencanto, talvez...
Vens, feito beija-flor, enquanto durmo
Roubar-me um beijo, finjo que não vejo
Espero outro e, outro... quando,
Sorrateiramente, feito vento manso
Remexes as folhas secas do meu jardim
Até roubaste uma, eu vi, foi assim...
Então, de espiar te cansas e... vais embora
Mas, eu sei... espero, amanhã tu voltas...
Porque eu sei... eu sei que tu me espias...
Sinto teu olhar manhoso enquanto me banho
Encoraja-te, tires a roupa e vens...
Vens banhar-te comigo
Não te acanhes... e, se sentir a te afogares
Não temas, regozija-te em deleite de um amor contido...
Então, se por ventura, aceitares o meu pedido
E mergulharmos juntos, nessa fonte que nos convida
Depois de imersos, ressurgiremos
Corpos límpidos, almas libertas...
Pássaros livres a voar juntos pelo universo!