SEGUNDA-FEIRA MAGRA
Vê, a segunda-feira começa com castiçais quebrados
Paredes riscadas a batom
Cílios postiços colados nos postes
É ainda madrugada de domingo e os cães uivam de desespero
Os galos insones misturam
Os gritos
Com o bater de suas asas mortas
Sinais de lágrimas de domingo
No orvalho que retalha a madrugada
Três meninos que se perderam dentro de um algodão doce
Choram lágrimas de cera
Sob a fonte por onde cresce o musgo
E alguém que se esqueceu de morrer
Fica parado
Diante de uma farmácia de plantão
À espera do próximo jornal
É ainda madrugada
Mas amanhece loucamente depressa
O bafo venenoso da segunda-feira
Escapa pelos bueiros
E entra pelas janelas
Faz desabar o castelo de cartas
De quem terminou o jogo
Sozinho
Cobre as ruas com a sua neblina podre
Infestando as lojas de conveniência tão pequenas e vazias
Com suas mulheres de cotovelo no balcão
A musa das fábricas
Não se incomoda que já não existam empregos
Em parte alguma
E toca o seu violino por sobre os telhados das casas pobres
Fazendo os velhos morrer de tristeza
É ainda domingo mas amanhece
Horrivelmente depressa
Mas então porque você se vai?
Tento te conservar no domingo mas então porque você se vai?
Cada vez mais para longe de mim
Cada vez mais longe
A bruxa te puxando pela mão
Por entre os edifícios que apodrecem
E as carrancas das árvores velhas
Do parque
E eu me contento em te olhar de longe
Na neblina
Sob a luz molhada dos automóveis
A segunda-feira já deixou o domingo com água pela cintura
Afogou os elefantes e os pianos
Arrastou você de mim
E não há um barco para me carregar
De volta para o sábado
Onde tu ainda me esperas