SEGUNDA-FEIRA MAGRA

Vê, a segunda-feira começa com castiçais quebrados

Paredes riscadas a batom

Cílios postiços colados nos postes

É ainda madrugada de domingo e os cães uivam de desespero

Os galos insones misturam

Os gritos

Com o bater de suas asas mortas

Sinais de lágrimas de domingo

No orvalho que retalha a madrugada

Três meninos que se perderam dentro de um algodão doce

Choram lágrimas de cera

Sob a fonte por onde cresce o musgo

E alguém que se esqueceu de morrer

Fica parado

Diante de uma farmácia de plantão

À espera do próximo jornal

É ainda madrugada

Mas amanhece loucamente depressa

O bafo venenoso da segunda-feira

Escapa pelos bueiros

E entra pelas janelas

Faz desabar o castelo de cartas

De quem terminou o jogo

Sozinho

Cobre as ruas com a sua neblina podre

Infestando as lojas de conveniência tão pequenas e vazias

Com suas mulheres de cotovelo no balcão

A musa das fábricas

Não se incomoda que já não existam empregos

Em parte alguma

E toca o seu violino por sobre os telhados das casas pobres

Fazendo os velhos morrer de tristeza

É ainda domingo mas amanhece

Horrivelmente depressa

Mas então porque você se vai?

Tento te conservar no domingo mas então porque você se vai?

Cada vez mais para longe de mim

Cada vez mais longe

A bruxa te puxando pela mão

Por entre os edifícios que apodrecem

E as carrancas das árvores velhas

Do parque

E eu me contento em te olhar de longe

Na neblina

Sob a luz molhada dos automóveis

A segunda-feira já deixou o domingo com água pela cintura

Afogou os elefantes e os pianos

Arrastou você de mim

E não há um barco para me carregar

De volta para o sábado

Onde tu ainda me esperas

Alberto Mawakdiye
Enviado por Alberto Mawakdiye em 16/05/2010
Código do texto: T2260022
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