OUÇO AS ESTRELAS
Navegam luzes no azul do céu,
sem leme no mar de firmamento.
Firmam o brilho ao acaso, ao léu,
negligenciando o escurecimento,
nas minhas retinas, impregnado.
Capto-lhes atônita, toda magia,
confidenciam-me segredo calado.
Aos olhos meus revelam a fantasia,
dos sorrisos estelares camuflados.
Sondo-lhes os murmúrios mudos,
movimentos de lábios, inventados,
iludem-me seus ouvidos surdos,
que ouvem atentos o meu canto,
do fascínio contido no meu peito,
de amor, perdida no puro encanto,
da beleza das estrelas que espreito.
Ouço-lhes tudo em meus devaneios,
vejo-as multicoloridas e de prata.
Revejo nos seus artifícios e meios,
Uma razão, uma resposta sensata,
porque me inspiram cumplicidade,
quando o amor inunda minh’alma.
Há entre estrelas e amor, afinidade,
se elas falam-me dele com calma,
quando as procuro apaixonada,
para confiar-lhes o meu segredo,
o amor mantém minh'alma domada.
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Inspirada no belíssimo soneto de meu ídolo, Olavo Bilac:
******ESTRELAS*******
(Olavo Bilac)
” Oras (direis) ouvir estrelas! Certo
perdestes o senso! E eu vos direi , no entanto,
que , para ouvi-las , muita vez desperto
e abro as janelas , pálido de espanto…
E conversamos toda a noite , enquanto
a Via Láctea , como uma pálio aberto ,cintila.
E , ao vir do sol , saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora : tresloucado amigo !
Que conversas com ela ? Que sentido
tem o que dizem , quando estão contigo ?
E eu vos direi : ”Amai para entendê-las !
Pois só quem ama pode ter ouvido,
capaz de ouvir e de entender as estrelas.”