Um alguém
Não me sinto especial,
Não me sinto capaz...
Não sou nada que sou,
Sou o oposto da paz...
Sou a sobra da cana,
Sou a embriaguês do sóbrio.
Sou a criança precoce
Sou o medo juvenil mórbido.
Sou eu o fim e o começo
Sou e não sou.
Sou a ponte que partiu
No momento em que alguém atravessou.
Sou aquele que não cresceu
Aquele que não tem palavra,
O fazendeiro em aflição
Que efêmeramente, abandona a safra.
Sou e preciso CRESCER.
Não sou, mas ainda preciso,
Dizes agora que fui impaciente
Como a dor de um dente ciso.
Fui até onde pretendia ir
Voltei e não fui a lugar algum.
Fiquei e já não vi mais nada
Decaído como um boneco vodu.
Não sou, e ainda vi o sangue
Caindo das mãos dos trabalhadores.
Fui o terror nos olhos dos escravos
Fitando o chicote nas mãos dos senhores
E agora? o que sobrou?
Já não sou mais nada, nem um grão.
Simplesmente fui aquele sujeito
Que inesperadamente, foi chamado de furão.
Ainda caem as gotas
Demonstrando a chuva que vem,
E sem poder esperar
Vê a multidão no eterno vai-vem.
Ergue-se o vulto
E já não pode mais ser.
Pois acabou sendo um espaço, um vão,
Pretendendo desaparecer.
( Jefferson Rodrigo )