Atlântida
Guiado pelos ventos da ilusão
Eu velejei num barco de ironia
Banhado pelo sol do esquecimento
Procurei pela ilha da sabedoria
Mas uma tempestade de razão
Rasgou as velas da fé
E me afundou num mar de dúvidas
Onde fui levado pela maré
Com os olhos ainda fechados
Tentei me agarrar as rochas da mentira
Mas elas se desfaziam
Como areia enquanto subia
Durante incontáveis eras afundei
na dor, no desespero,
na agonia
Até que finalmente o solo encontrei
Alguém a mão me estendeu
“Abra seus olhos desbravador,
Pois na escuridão da verdade podes enxergar
E no frio da certeza podes caminhar.
Eu sou o ultimo dos sábios
E em minha casa conforto encontrará.”
Então, com olhos abertos,
O impossível vislumbrei
Uma cidade dourada reluzia
onde só água existia
“Que visão magnífica de um lugar surreal
Aos olhos de um mortal.
Seria isto Atlântida a cidade perdida?”
“De Atlântida alguns a chamam,
E de incontáveis outros nomes.”
“Mas insisto em indagar, oh ultimo dos sábios.
Atlântida não existe e nunca existiu
Como posso aqui estar?”
“Percebo que abre os olhos, mas
Reluta em enxergar, oh desbravador.
Estás a me indagar e não percebe onde estás.”
Então, com olhos abertos,
O impossível vislumbrei outra vez
Ao perceber a fauna medonha e abstrata
Que representava traços esquecidos
De minha sensatez.
O conhecimento então foi me revelado
Conhecimento que já possuía,
Mas havia a muito abandonado
“Então, quem és tu e
por que me acolhe,
Oh ultimo sábio?”
“Sou teu melhor amigo, teu irmão
E não faço por que quero ou
Por que devo.
Faço por que assim sou.
Agora chegou a hora de para teu caminho voltar.
Neste oceano não te perderás jamais
Porém nem vento, nem barco e nem vela terás.
Pois na verdade caminhará de olhos abertos
E nem mesmo o sol te iluminará.”
E assim voltei a superfície
Para ver o caos da ignorância reinar
Onde a felicidade dos tolos iludidos
Não conseguem a realidade observar.