POESIA INSPIRADA EM "O ELOGIO DA MORTE" DE ANTERO DE QUENTAL

I

A madrugada e a medula.

Caio da cama;

frito, perco todo o caldo,

macio infarto.

Cheio de merda na cabeça,

minha noite é uma vaidade oca.

Fétido e forjado

o teor vindo dos arrependimentos

ocultos e não realizados,

vindos da mente.

Sombras da lua; recriam

perspectivas,

pensamentos que dançam a todo custo.

Apresento minha alma

como um desfile de Deus e Sorte.

Natação na poça.

Fundo é o útero,

- Um caminho falante

mas em paz.

Distante de ser elogiado,

iniciado pela morte.

II

Neste trecho astral da terra,

em mim a lava em movimento.

Lugares frios de densas memórias

que assustam as alegrias.

Permeio em deriva meio ao gelo.

Apático por colonizar

ao rastro

de meu bambu choroso

o qual escuto o som

atentamente.

Quem fica no chão não sobe nos ares.

Um clarão na mata surda.

Morte irmã do amor,

busco teu abraço, por

somente ser esta viajem

o ermo espaço.

III

Sei quem sou.

Nunca procurei.

Guerreiro,

descalço encosto na parede em brasas.

Sei que falo sozinho,

realmente! procuro pegadas leves.

Longínquo é o presente inclinado,

nele mergulho e levo o mundo.

Com você não é preciso nome;

Olhar eficiente diz tudo.

Feto pronto em segundos.

Beatriz, morta consoladora!

IV

Cheio da fumaça de cigarros

não via nada. Surpreendido

com você ao lado;

toda hora, incansável cegueira,

entediado e magoado,

apontei o dedo mesmo.

- Cheguei ao fim da linha,

colega de trabalho.

Coeterna é minha alma

dormindo no assoalho,

Eu não te amava

e nem te conhecia.

V

Um burro frente a fonte;

de costas não via nada.

- Acalma.

Centelha pessoal - arma de fogo,

iluminou-me o gatilho que abala.

Próstata irmã gêmea.

Hologramas sedutores;

tuas tres dimensões

me agradam na caminhada,

cobre o rosto e recua apavorada

quando a luz do sol noturno

compreende toda a sombra da linguagem.

Quanto mais alta a rua na subida,

mais alto o grito.

Ideogramas, dilemas.

Mulher,

beberei do teu seio inviolável.

A comunhão da paz universal.

VI

Muita inocência

passa a ter o locatário.

Me arrepia o fim da noite

mendigando solitário.

Noite de núpcias ao contrário.

- Augusta.

Quem reza no enterro toda de preto,

num cinema funerário.

Quanto ao medo do erro;

outro ser absoluto

com sorriso inalterável.

Ser ou não ser

um índio a adorar-te.

Liso Carenu
Enviado por Liso Carenu em 26/04/2010
Código do texto: T2221561
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