POEMA ANTIQUADO
Onde foi que eu guardei os meus poemas?
Eles são muito antigos
Por isso estão esquecidos
Talvez dentro de um armário
Ou escondidos num baú
Ou mesmo, em lugar nenhum...
Devem estar totalmente fora de moda
Uns ainda vestiam casaca
Outros usavam peruca
Chapéu, então, nem se fala...
Nenhum saia na rua
Com a cabeça destampada!
Por ocasião dos saraus
Onde se ouvia Mozart e Strauss
Os versos vestiam o fraque
Ficavam sérios e cofiavam o bigode
Já as damas, isto é, as rimas
Vestiam seus longos vestidos balões
E, nos cabelos, imensas plumas
Tenho certeza que guardei meus poemas.
Devem estar amarelecidos
Quiçá até criaram traças
Que corroeram a roupa do estilo
E o cheiro de naftalina
Deve estar sufocando o tema
Que problema!
Como pude deixá-los abandonados?
Antes tivesse doado
Sempre há poetas sem inspiração
Ou mesmo um surrupião
Que não se acanharia
Em acolher em sua casa
Esses diletos filhos
E até daria a eles seu nome
Ah! enfim... Achei!
Não disse que estavam num baú?
O baú estava no sótão
Abri; dentro de uma caixa, uma pasta
Dentro da pasta, um calhamaço; sorri...
Ah! que saudade de vocês
Meus poemas antiquados...!
Que bom vê-los guardados
E ainda em bom estado
Vou levar vocês ao shopping
Renovar o guarda-roupa
Agora a moda é outra
Os versos vestem jeans
As rimas fazem chapinha e escova
E os dois saem numa boa
Para curtir a noite
Num bar que inspira poesia!