Sentir falta.
As vezes fico me perguntando.
Do que mais sinto falta?
Sinto falta?
Que ausência que se faz tão presente
Está nos vãos das escadas,
Nas frestas da parede,
Nos desvãos do caminho,
No silêncio intrigante dos mistérios,
Nas reticências retilíneas do lirismo.
As vezes fico a divagar longamente.
Do que realmente sinto falta?
Havia um dorso humano ali?
Um rosto ou expressão que me explicasse
a sombria a razão de tudo...
E, no espectro fico a filtrar as palavras
Que jamais foram ditas
E por isso, malditas
Então selaram nossa sorte.
Quanta dor, mágoa e rejeição.
Quanta angustia só
por estar apenas entardecendo,
envelhecendo,
entristecendo...
Por estar morrendo todos os dias,
E se despedindo do horizonte riscado à giz...
E apagado regiamente pelo tempo.
E estarmos sozinhos perante o espelho,
Indefectivelmente sozinhos.
Sem Deus e nem perdão.
Diante dos olhos
e das nódoas deixadas pelo viver
Do que sinto falta?
Da memória?
De ter idéias e esquecê-las?
De perceber e desconfiar?
Ou apenas do simples gesto
corriqueiro, o aceno à distância
De quem passa.
Só passa e não fica.
De estar sozinha à sombra
De lembranças que quero esquecer.
Essas inquirições nos abominam
Diariamente e rispidamente
E, me esfrega o ranço amargo
De sorver o mundo com lucidez.
E de ter medo de sentir falta.