O Clarão da Trovoada
Contanto que seja quase que não
A alvura do pensamento sutil
Envolve no celofane a razão
E volta pra onde ela fugiu
Com tanto saber de loucura o perdão
Ajuda a manter o equlíbrio infantil
Por mais que corressem, a salada e o sermão
Couberam na mão do deserto senil
No mês de abril a maior estação
Não cabe no trem que agora partiu
De longe existiu o aceno da mão
Pintando o rosto de alguém que não viu
Fingiu escolher a maior solidão
Tentou me dizer que o amor não surtiu
O efeito do fato da fustigação
Na calada do sono que a possuiu
De pernas pra cima correu do avião
Que voava baixo, mas nunca caiu
Botou a criança no colo e o patrão
Fingiu que olhava, mas logo sorriu
O vento não vinha ventando no vão
Da porta que eu tinha pintado de anil
E a minha vizinha trouxera meu pão
Porque seu marido não a possuiu
E com o estandarte da cor do açafrão
A porta-bandeira ruidosa saiu
O samba que tinha a cor do perdão
Também tinha a cor do metal varonil
Fiquei na soleira da minha pensão
Pedi bananada, trouxeram-me abiu
Sorri descansado, não vi o clarão
De uma trovoada que me demoliu.