Senha tácita.
Há um conhecimento tácito nas portas
Elas fecham e abrem
Permitem e vedam pessoas, coisas,
Ares e olhares...
Dividem ambientes e classes sociais.
Há um conhecimento tácito nas ruas
Espichado nas calçadas.
Esticado ao lado das poças d’água
Ronronando simultaneamente com o ronco dos motores
E, ainda naquele gás carbônico
impossível de se respirar.
Mas presente de corpo sem alma.
Há um conhecimento tácito nos olhares,
Nas malas, na decisão de partir e não voltar
Em não olhar para atrás jamais.
Em apertar no peito a enorme dor.
E apenas sair.
Com palavras travadas na garganta
Com gritos sufocados nos punhos
E com lágrimas secas no deserto da solidão.
Há conhecimento tácito na poesia
Em não rimar com nada,
Em dizer tudo ou quase tudo
Sinteticamente e tão dolorido
No lirismo bastardo dos dias.
No tácito entendimento de
sentir, pressentir e olhar apenas.
Captando tudo em silêncio
Em solidão retilínea,
Em divisões tortas.
Em dores.
Nas palavras secretas das senhas.
Há um conhecimento tácito em tudo.
Revele-me:
Qual é sua a senha?