Senha tácita.

Há um conhecimento tácito nas portas

Elas fecham e abrem

Permitem e vedam pessoas, coisas,

Ares e olhares...

Dividem ambientes e classes sociais.

Há um conhecimento tácito nas ruas

Espichado nas calçadas.

Esticado ao lado das poças d’água

Ronronando simultaneamente com o ronco dos motores

E, ainda naquele gás carbônico

impossível de se respirar.

Mas presente de corpo sem alma.

Há um conhecimento tácito nos olhares,

Nas malas, na decisão de partir e não voltar

Em não olhar para atrás jamais.

Em apertar no peito a enorme dor.

E apenas sair.

Com palavras travadas na garganta

Com gritos sufocados nos punhos

E com lágrimas secas no deserto da solidão.

Há conhecimento tácito na poesia

Em não rimar com nada,

Em dizer tudo ou quase tudo

Sinteticamente e tão dolorido

No lirismo bastardo dos dias.

No tácito entendimento de

sentir, pressentir e olhar apenas.

Captando tudo em silêncio

Em solidão retilínea,

Em divisões tortas.

Em dores.

Nas palavras secretas das senhas.

Há um conhecimento tácito em tudo.

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GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/04/2010
Código do texto: T2179809
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