Como dormir na minha cama de pregos ? (autobiografia 1)
Sou aquele faquir da praça
Que engoliu o novelo de linha inteiro
E agora expõe sua única graça
Puxando o fio todo aos poucos
Desenrolando-o para aplauso do povo
Só que o fio tornou-se espesso
Nele vem agora: nervos esticados
Estômago, intestino, fígado anexo
E já vem me vem também o cerebelo...
Exponho-me em entranhas assim
Sem nexo
Coisas estranhas me acontecem:
Almoço cactos
Tomo leite das pedras
Teço impossibilidades e desejos
Amo distâncias
Tranço o sem fim
Choro areia colorida
Miro no futuro com minha flecha sem ponta
E agora que a noite veio
Como dormir tranqüilo na minha cama de pregos?