SEGREDOS CALADOS
Não perguntarei coisas que não saibas,
Nem tampouco sobre coisas que não creias.
Não perguntarei sobre o tênue fio ligante,
Da lúcida consciência e a consciente loucura,
Tão íntimas, que de ti fazem teu próprio rei.
Não perguntarei sobre a tua sapiência,
Nem tampouco se importa o teu saber.
Da tua sabedoria, só o que interessa,
Se és sábio, se buscas sempre entender,
Onde habita a parte mais simples de ti.
Não perguntarei sobre o rio que nasce,
Que às vezes escorre dentro de ti,
Nem tampouco por onde deságuam as águas,
As calmas ou as caudalosas que ora escoam,
Ou, ora represam-se dentro de ti.
Do rio, da água que corre, só o que interessa,
Que a ti, ora irrigam, ora inudam,
Trazem o feitio, tão próprios de si.
Não perguntarei do que vem do teu âmago,
Do imerso que subitamente emerge,
Do leitor que és, do mundo à tua volta,
Tampouco do teu próprio mundo interior,
Que livre, lês, interpretas como bem entender.
Nem se por vezes esta “leitura” do mundo,
Indigna-te tanto, se te rebelas e gritas,
Mesmo que, nem sempre teu grito se faça ouvir,
Neste tão surdo mundo, às vezes cego,
Que não escuta e não vê a tua ânsia ousada,
Tomando o lugar da tua simplicidade.
Não perguntarei onde nasce o teu sol,
Se o calor que emana dele ainda te aquece.
Se será fértil a terra, quando vier a chuva,
Nem tampouco se o céu que te cobre,
De azul, ainda colore o ar e deixa voar a ave.
Se a terra lavrada e molhada por chuva,
É teu deserto ou teu solo fecundo.
Não me suponhas farta e contentada,
Sem perguntar e da resposta ignorada.
Néscio! Ainda resta-me muita ambição.
Perscrutar tua alma, entender teu coração,
Guardar teus segredos e torná-los meus,
O céu e a terra como eternos cúmplices.