Leoa madura
Uma leoa intrigante em caçadas noturnas se arrisca, afiando suas garras letais
Com passos suaves, matreiros, olhar penetrante, certeiro, ao brilho cúmplice da Lua se vai.
Majestosa, sensual e atrevida, ainda noviça nas artes da vida, sede de querer saber mais.
Sua pele transuda desejo, seus lábios imploram por beijos, trilhar por profundezas abissais.
Que linda leoa madura! Sabor agridoce de fruta apurada, mistura de santa e devassa, um pouco em cada lugar.
Tem fogo preso nos seus cabelos, novas histórias prá ser contadas, sendas não percorridas - escultura virgem prá se lapidar.
Sentir sua voz ofegante, suas narinas frementes no escuro, o sangue fervendo nas veias – um vulcão prestes a lava jorrar.
Imaginar essa leoa despida, ancas alucinantes, seios tépidos, incandescentes - não quero ser sobrevivente nesta noite que não vai terminar.
Esta leoa intrigante e madura, com trejeitos de mulher segura, maximiza meu desejo latente, me faz menino desassossegado.
Preenche minhas fantasias mais loucas, faz o muito parecer ainda pouco, o querer nunca ser saciado.
Oh Faunos, Sátiros, Ninfas e Vestais! Juntastes teus poderes imortais prá aguilhoar meus desnorteados sentidos, prá ter sonhos tão desencontrados.
Nos braços dessa leoa sestrosa, as horas correm sem conta, o dia se esvai pelos dedos carregando estes inconvenientes medos – abdico de ser caçador: quero ser por ela caçado.
Vestimos nossos condicionamentos como se eles fizessem parte de nossa personalidade, tomando o que é ilusório, emprestado, pelo Real. Dificilmente conseguimos atinar com a idéia de que fazemos, todos nós, parte de uma pirâmide rotativa, na qual, os papéis que representamos se alternam indefinidamente. É assim no macro, quando somos investidos das personas de reis ou mendigos, ou mesmo no nosso microcosmo, nos mesmos, transitando desde a criança indefesa, passando pelo exuberante adulto e finalmente desaguando no moribundo que vai entregar sua energia de volta ao Universo. Só no amor, e somente através da consciência do amor é que rompemos essa insana cadeia de limitações.
Cidade dos sonhos, noite da Terça-Feira de Carnaval, Fevereiro de 2010
João Bosco