Contraponto
Deita-se a tarde, placidamente, na translúcida face da gestante, a derramar, com ares de refinada amante, gotículas de túrgidas cores.
No quarto sem janelas da vida, digladiam-se impiedosamente o ególatra e a deficiente, ambos sôfregos vampiros,
Algozes mascarados, enjaulados na redoma infindável de acontecimentos, ameaçam matar-se mutuamente a tiros.
Um inacreditável pôr-do-sol premia a cidade devassa, inconsciente da presença do casal de namorados, de mãos dadas, a permutar juras eternas de amores.
A fome de amor pode nos tornar tão descuidados que corremos o risco de não degustar este sentimento tão raro em suas hebdomadárias aparições.
Terras de São Paulo, Tarde da Segunda-Feira de Carnaval, Fevereiro de 2010
João Bosco