EU SOU

De madrugada

Um rosto sinistro

Com voz embargada

Me segue atento

Vigia meus passos.

Em ritmo lento

Uma sombra alada

Saída do nada

Olhar sonolento

Flutua na praça.

Meus passos cadentes

Batendo no asfalto

Contidos, urgentes

Olhando pro alto.

No escuro da noite

Ao som do açoite

Sem pressa nem pena

Uma voz me condena.

E eu, escorrendo no ralo

Com olhar de regalo

Fugindo em silencio

Correndo de mim.

Um monstro sombrio

Sem forma nem brio

Com jeito, demente

E cara de gente.

Presa e predador

Caça e caçador

Criatura e criador.

Somos multidão.

Este sou eu.

João Drummond
Enviado por João Drummond em 15/02/2010
Código do texto: T2088117
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