EU SOU
De madrugada
Um rosto sinistro
Com voz embargada
Me segue atento
Vigia meus passos.
Em ritmo lento
Uma sombra alada
Saída do nada
Olhar sonolento
Flutua na praça.
Meus passos cadentes
Batendo no asfalto
Contidos, urgentes
Olhando pro alto.
No escuro da noite
Ao som do açoite
Sem pressa nem pena
Uma voz me condena.
E eu, escorrendo no ralo
Com olhar de regalo
Fugindo em silencio
Correndo de mim.
Um monstro sombrio
Sem forma nem brio
Com jeito, demente
E cara de gente.
Presa e predador
Caça e caçador
Criatura e criador.
Somos multidão.
Este sou eu.