INSENSATEZ
Nessa vida hipócrita e tudo tão mesquinho
vou navegando por um oceano de labaredas
desbravando terras que desconheço totalmente
se juntando aos povos e regiões inimagináveis
conhecendo culturas surreais, magos astrais...
Com o meu cajado... não esmoreco e não desisto
persisto numa caminhada que não sei bem o que é
escalo montanhas íngremes, conquisto a natureza
inalando o suave aroma e frescor das flores silvestres
espécies de orquídeas tão lindas que nem parecem reais...
A lua é intensa, instigante e esplêndidamente misteriosa
os pássaros gorgeiam com um canto sinistro no breu da mata
galhos secos de árvores distorcidas e disformes... tão mórbidas
a terra, tão úmida e árida ao mesmo momento, é muito estranho
causa impressão de remover-se, se agita em meio a relva molhada...
O canto da coruja soa maquiavélico no silêncio da noite enluarada
um raio ao longe risca o céu com uma rajada de prata iluminada
bem ao longe, bem ao longe... o belo barulho de uma cascata
mas sou atacado com unhas e dentes, por um leão ferido e faminto
e me deparo com a realidade nua e crua, sem tanta insensatez...
Me desprendo desse corpo de carne e osso, mais osso de que carne
e liberto todos os meus medos e anseios, trancados a sete chaves
num baú dourado e antiquado, abro com um rangido vil e sombrio
nesse misto de emoções, desabo num choro sentido e contido
que havia muito tempo que me aflingia, me apunhalava pelas costas...