Simples Complexo

Já fui de muitas castas,

Fui bruxa, rainha, menina

Corri de muitos loucos

De mim parti sem deixar rastro

Já fui eterna, amante, fria, distante

De tanto caminhar já fui bastante

Torta, direita, cortante

Disse coisas feias

Fui sorrindo me entregar

Ao carrasco da verdade

Fui arteira, fui covarde

De um pouco fiz tanta coisa

De tanta coisa me enchi

Fiz faxina e me escondi

Na poeira do tapete

Fui arrogante, sem pudor, ardente

Fui semente um dia e flori

Reguei meus próprios pés

Usei anéis, pulseiras e coleiras

Cantei ao vento canções de amor

Dormi ao relento em braços fortes

Fui dominada, dominei também

Joguei com a sorte perdi, ganhei

Chorei de dor e de felicidade chorei

Pari gente contente e livre

Fiz uma semente germinar

Escrevi nas paredes de cidades

Passei em lugares astrais

Aprendi a falar por sinais

Lutando com meus dedos e mãos

Sigo junto a quem passa

Na mesma vida-calçada

Sem ser vista por tantos

Pinto a cara com traços

Cubro meu corpo com trapos

Do que fui sobrou tanto

Diante desse incrível fato

Trago nas veias um sangue

De guerras e artefatos

De um povo misturado

Simplesmente sou comum

Na complexidade do existir

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 23/01/2010
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