Sem portas com chaves
Sem portas com chaves.
Meu armazém vazio
Meu armazém sem portas
Aqui é tudo tão frio
Que o medo aprende a
Ter voz e não fracassar
Diante da amplidão do imaginável.
Meu armazém traçou
Em preto e branco
O reflexo do pensador
E as angústias da liberdade.
Meu armazém hoje
Ganhou portas janelas e paredes,
Ninguém notou mudanças
Nem pronunciaram o dissolver
Do tempo á ele imposto.
Meu armazém floriu
Na plenitude das marcas
Se fundou e jamais se abriu.
(...)
O temor das palavras e do intocável arquivo de uma vida que se fecha diante do mais frágil medo. E os corações param de bater buscando o alivio da vida. Extraindo inseguranças das pedras. (...)
Jane Krist Coffee
Uma jóia da musica brasileira, melhor dizendo uma das jóias, linda só pra não esquecer.
Pequeno Mapa do Tempo
Belchior
Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do meu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião
Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão
Medo, medo. Medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo de Belo Horizonte
Eu tenho medo de Minas Gerais
Eu tenho medo que Natal Vitória
Eu tenho medo Goiânia Goiás
Eu tenho medo Salvador Bahia
Eu tenho medo Belém do Pará
Eu tenho medo Pai, Filho, Espírito Santo São Paulo
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá
Eu tenho medo estrela do norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará
Medo, medo. Medo, medo, medo, medo
Eu tenho medo e já aconteceu
Eu tenho medo e inda está por vir
Morre o meu medo e isto não é segredo
Eu mando buscar outro lá no Piauí
Medo, o meu boi morreu, o que será de mim?
Manda buscar outro, maninha, lá no Piauí...
E um pouco mais das jóias da humanidade, que pode passar milhares de séculos mais isso continuará sendo um alivio das almas. E aos olhos um presente enlaçado á complexidade do efêmero.
Drummond de Andrade.
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.