POEMA PARA AS PERNAS
®Lílian Maial
Sonho um sonho de pernas para o ar,
muitas pernas,
sem corpo e sem caminhar.
Pernas sem pressa,
sem tropeços de rimas,
pernas de sonhar.
Nunca havia reparado nas pernas,
não as minhas,
que as ruas estão apinhadas de pernas.
Cá do alto das letras,
espio as pernas de serifas,
a serpentear o poema.
Para que as quero pernas,
se deixo que tu me pises as carnes brancas,
que me enlaces, com as tuas,
as minhas trôpegas e sonolentas,
num balé aflito?
Para que as uso,
se de ti não corro,
se as asas nos conduzem
a bailar na sala?
Se já não vou,
se já não pulo,
se nem pretendo esfolar
a sola no sertão de versos?
As velhas veias traem o fluxo.
O sangue embola com a rima.
Ah! Trombose!
Um novelo - teu beijo - coagulado em minhas pernas!
Teu tronco, em trança, o calor, o sangue...
Onde o chão de pisar?
Para que as quero,
se no teu quarto não preciso delas para caminhar,
se passeio na escuridão da tua ausência?
Não! Eu quero os braços
de acariciar cabelos,
as ventas de cheirar aromas,
a boca de expiar culpas
e remoer temores.
Pintar um poema sem pé, nem cabeça,
de penas e plumas.
Pernas de destrancar volúpias,
desenhar traços e versos
na tua pele nua,
e, na fumaça do cigarro,
brincar de esculpir teu torso.
Pernas, para que as quero,
se a noite passa num longo embate,
que maltrata, deixa insone e tira o fôlego?
Pernas para correr
e não alcançar.
Não quero pernas,
as velhas pernas,
de sinuosas veias,
que já esmagaram a saudade,
pisotearam distâncias!
Quero o repouso sereno,
no sopé da montanha,
para escalar lonjuras.
***************
®Lílian Maial
Sonho um sonho de pernas para o ar,
muitas pernas,
sem corpo e sem caminhar.
Pernas sem pressa,
sem tropeços de rimas,
pernas de sonhar.
Nunca havia reparado nas pernas,
não as minhas,
que as ruas estão apinhadas de pernas.
Cá do alto das letras,
espio as pernas de serifas,
a serpentear o poema.
Para que as quero pernas,
se deixo que tu me pises as carnes brancas,
que me enlaces, com as tuas,
as minhas trôpegas e sonolentas,
num balé aflito?
Para que as uso,
se de ti não corro,
se as asas nos conduzem
a bailar na sala?
Se já não vou,
se já não pulo,
se nem pretendo esfolar
a sola no sertão de versos?
As velhas veias traem o fluxo.
O sangue embola com a rima.
Ah! Trombose!
Um novelo - teu beijo - coagulado em minhas pernas!
Teu tronco, em trança, o calor, o sangue...
Onde o chão de pisar?
Para que as quero,
se no teu quarto não preciso delas para caminhar,
se passeio na escuridão da tua ausência?
Não! Eu quero os braços
de acariciar cabelos,
as ventas de cheirar aromas,
a boca de expiar culpas
e remoer temores.
Pintar um poema sem pé, nem cabeça,
de penas e plumas.
Pernas de destrancar volúpias,
desenhar traços e versos
na tua pele nua,
e, na fumaça do cigarro,
brincar de esculpir teu torso.
Pernas, para que as quero,
se a noite passa num longo embate,
que maltrata, deixa insone e tira o fôlego?
Pernas para correr
e não alcançar.
Não quero pernas,
as velhas pernas,
de sinuosas veias,
que já esmagaram a saudade,
pisotearam distâncias!
Quero o repouso sereno,
no sopé da montanha,
para escalar lonjuras.
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