Carta a Alma Divani

Penso- E se penso choro.

Por isso deixo de pensar.

Vivo- E de viver me canso,

por isso, vegeto.

Sou anti-natural e como tal

sou infeliz, por isso

faço da lira do tempo

motivos de lágrimas para o meu riso.

Perdido de amores por minhas formas

fiz-me dois e sendo dois, fui imortal,

depois, cansei-me.

Como guerreiro covarde,

é justo que anseie pela inércia.

Sou máquina-e minhas peças estão gastas e velhas.

Sou carne- e como carne, minhas células apodreceram.

Quis ser início e hoje sou fim, bem perto do começo, porém estou...

Dentro da morte, achei o princípio da vida,

como havia sentido a morte,

no dia a dia incessante.

Agora sou um montículo de matéria inútil

que o vento do tempo espalha.

Para longe, para o centro...

Regina Racco

1972