DA JANELA DO HOTEL

Da janela do hotel

Vejo janelas opostas

De prédios eqüidistantes

E gentes pensativas

Amoldando os parapeitos.

Debruçam-se no espaço da vida

Entre os pensares que os prendem

Ao quarto desalinhado

E aos ares promissores do além-janela,

Para os quais essas gentes ainda não possuem asas.

Uma rolinha assustada voa próxima de mim.

Acompanho-a com os olhos

E meu corpo se comprime na parede,

Querendo ser Jesus, querendo algo mais.

Se o mundo é presídio,

Os espaços que o homem constrói

São solitárias malcheirosas e sufocantes de se viver.

Prefiro os espaços de Deus.

Onde há sempre sinuosos caminhos que se encontram,

Formas que se completam,

Montanhas que abraçam vales,

Planícies que abrigam campos,

Rios que percorrem distâncias e dão a volta ao mundo

Num tempo infinitamente menor que 80 dias.

Da janela do hotel não vejo tudo isso.

Nem sempre encontro o enquadramento perfeito

Para fugir das janelas opostas.

Mas este Ser que me domina

Faz abrir-se em mim uma janela

Por onde não passam apenas idéias:

Viajam sonhos, descortinam-se visões de coisas

Que nem sempre os olhos vêem da janela do hotel.

Jess
Enviado por Jess em 17/07/2006
Código do texto: T195932