Acaso livre
Sou assim meio deserta
Sem rasura ou contorno
Sem seguimento ou reta
Uma curva sem volta
Uma volta sem partida
Sou e vou à hora que quero
Sem armadilhas, sem códigos
Desarmada caminhada sem rumo
Sem amarras, vou com minha voz
Presença efêmera e transitória
Sem medo de querer ou prender
Livre de possibilidades, teorias
Sopro palavras e engulo ventania
Bebo os olhares e beijo o ar
Quero a simplicidade do instante
Do instante me fazer amante
Presença inusitada e sem passaporte
Quero o encontro ao acaso
Desses que nos damos de presente
Pode ser no fundo, no raso, no quente
Sem temperatura ambiente
Como uma brisa que passa e deixa cheiro
Quero ser do mundo jardineiro
Que colhe o que sobrou da tempestade
Nem sequer tenho idade
Não quero teu corpo invadido
Quero roubar o instante perdido
Aquele que vai ser meu eternamente
Nem quero ler sua mente
Quero só o momento proposto
Sem qualquer delírio ou tormento
De nada fazer coisa alguma
Só respirar e olhar ao redor
Sentir o instante fluindo
Aproveitando o momento presente
Sem palavras, ver o dia diminuindo
A respiração traduzida em sentimentos
A emoção daquele momento
E o adeus sem despedida
O reencontro marcado pelo olhar
De um querer quase infindo
De coisa alguma ir se definindo
Para que a lembrança nos faça “ser”.