MEUS FANTASMAS

Desde pequeno vivo com meus medos

Convivo com meus fantasmas...

Tem um que chegou comigo e

foi morar embaixo do berço

Depois mudou-se para debaixo da cama.

É fiel, acompanha-me a vida inteira.

Tenho dó dele, fantasma com asma e rinite

Deve ser por conviver com ácaros.

Reclamão diz que atrapalho seu sono

Quando viro e reviro minhas dores

Nas minhas noites de insônia.

Quando faço amor ele é discreto

Diz que dorme, mas acho que finge

Conheço-o bem e sei que é um tanto safado

Abusado, ousa dizer-me

Que é devido à convivência.

O que mora atrás da porta

É azedo, mau-humorado e carrancudo

Zanga-se fácil e implica com tudo

Vive fazendo caretas e mostrando a língua

Para o que se esconde atrás da cortina

Que por ser tímido nunca aparece.

Dois ou três que moram no teto

E vivem de cabeça pra baixo

Julgam-se espertos, metem o bedelho

Dizem saber de tudo, dão palpites

Acho-os muito confusos e também intrusos.

Os do corredor são muitos.

Exatos nem sei a conta

Mutantes, aparecem de várias formas

Um instante e desaparecem

Alguns nunca mais voltam

Outros ficam para sempre.

Vivem correndo, fazendo ventos

Dão gargalhadas quando ouvem bater minhas portas

Isso deixa o carrancudo louco

Que esbraveja e solta fogo pelas ventas.

Um que mora na copa me faz dar risada

Acho ele uma comédia

Diz coisas engraçadas, brinca comigo

De tão gordo nem mais flutua.

Também pudera, vive comendo

Frequentemente me chama para ajudá-lo

Quando quer assaltar a geladeira.

Os que habitam meu jardim

Qdo me vêem riem de mim

Dizem que os assusto e sou feio.

Feios são eles que nem refletem no espelho.

Escondem-se atrás de troncos

Tem uns que moram neles

Outros, camuflados de verde

Esgueiram-se em meio às folhagens.

Jogam gravetos à minha passagem

Esperando que eu tropece e caia.

Mas esperto eu pulo e brinco

Fingindo que estou dançando.

Só de um tenho receio

Pois não o conheço direito

E aprendi que é perigoso falar com desconhecidos

Está lá do lado de fora

Forçando o portão, tentando puxar o trinco

O cadeado ainda resiste, mas ele não desiste

Dias desses chamei a polícia

Mas eles não acreditam

Dizem que sou maluco e que fantasmas não existem

Falam que é coisa da minha cabeça

O delegado riu de mim

E diz que prende-me se eu insistir

Voltei pra casa sem sequer virar notícia.

Tem os fantasmas das ruas

Que vivem indo e vindo

Em meio das multidões

Mas desses nem me dou conta

Pois são de todo mundo.

- Roberto Coradini {bp}