Rito cronológico

Consegues tu sentir o peso da alma?

O cometa veio e voltou,

nossa luneta quebrou

e ninguém consertou

o mecanismo rejuvenescedor

que caçávamos com tanto alarde

nas encostas enevoadas

de um país incerto...

Consegues tu suportar o peso da alma?

O algoz ergue a maça

e a exultação popular

é acompanhada pelo rufar

e pelo arrulhar

das aves agourentas

antes empoleiradas

em gárgulas meditativas.

Medievais roseiras brilham em seus agudos cortantes.

As cabeças rolam no tapete natural

que, condescendente, assistiu

o teu obscuro deflorar.

Consegues sentir?

Eu sinto em ti,

e sordidamente escorrido na epiderme

do espírito.

Onde está meu corpo agora?

Fuligem se dispersa no céu opaco...

Escoamos no pântano brumoso.

Águas arrulham debaixo dos galhos finos

aurifulgentes

e nada penso no inominável rito cronológico;

caçamos nossos dias passados

com lentes polidas

de desérticas vitrificações fumegantes;

ampliamos e reduzimos

a auréola sacroespasmódica

das notas obstruídas

no fole de nosso instrumento partido...

Roubaram a partitura.

Queimaram a estrutura.

Telescópios na fogueira.

Telescópios na fogueira.

Telescópios na

Binóculos na lareira

Bi

Óculos

O branco frio absorve o vermelho quente

Eu...

sinto...

(...)