qual é, pô?

qual é minha sozinha

que a menina vai ficar

qual é minha chapinha

que o menino vai ganhar

qual é minha sopinha

atormentada vai ferver

qual é minha rainha

que não vai me aborrecer?

qual foi meu desenlace

que ensejou a confusão

qual foi o meu disfarce

dentro da encenação

qual foi a sobremesa

que ela disse que queria

qual foi a sutileza

que eu não disse que traria?

qual muita juventude

disfarçada deu no pé

qual muita concretude

amealhada no chulé

qual muita paciência

na escultura da maçã

qual muita obediência

ao cheiro de uma hortelã?

qual era a espingarda

e o seu beijo vingador

qual era a empregada

que zombou do zelador

qual era a ressonância

dos suspiros da vizinha

qual era a relevância

do aconchego que eu não tinha?

qual tanto resultado

do esqueleto de uma vida

qual tanto apropriado

é o corte da ferida

qual tanto testemunho

tinha o murro da vergonha

qual o tanto desse punho

numa vida enfadonha?

qual o fim dessa desgraça

sinto a graça no saber

qual o fim, se tudo passa

desde o fim do anoitecer

qual o fim de uma criança

que não come a papinha

qual o fim da esperança

se eu usar a camisinha?

Rio, 29/06/2006